Você entra no Burger King, senta, abre o cardápio e lá está: “BK Shake Proteico com Whey Protein”.
Parece até saudável, né? Afinal, se tem proteína, deve fazer bem.
Só que essa é exatamente a armadilha que as grandes marcas aprenderam a usar: transformar um ingrediente com boa reputação — como a proteína — em isca para vender qualquer produto.
De barrinhas a bolachas, de pães a milk-shakes, o “+ proteína” virou o novo “sem açúcar” das prateleiras. Mas o que realmente está por trás dessa tendência? E será que esse “upgrade proteico” entrega o que promete?

O hype da proteína

Nos últimos anos, com o crescimento do estilo de vida fitness e a popularização de conteúdos sobre alimentação nas redes sociais, um macronutriente que antes passava despercebido ganhou os holofotes: a proteína.
O que antes era apenas mais um componente da dieta passou a ser tratado como o “nutriente milagroso” — aquele que constrói músculos, ajuda na saciedade e acelera o metabolismo.

A ascensão desse protagonismo não aconteceu por acaso. Influenciadores, fisiculturistas e até mesmo nutricionistas começaram a compartilhar rotinas alimentares hiperproteicas, shakes do pós-treino e receitas com whey protein como se fossem o novo padrão de saúde. A ideia de que “quanto mais proteína, melhor” se espalhou rapidamente e se consolidou como uma verdade popular.

E é justamente aí que o marketing entrou em cena. As grandes empresas, sempre atentas às tendências de consumo, perceberam uma oportunidade perfeita: se as pessoas estão em busca de mais proteína, por que não transformar isso em estratégia de venda?

Mas, afinal, o que é proteína adicional?

Quando falamos em “proteína adicional”, estamos nos referindo aos alimentos que recebem um acréscimo artificial desse macronutriente durante o processamento. Essa adição pode ter diferentes finalidades: aumentar o teor proteico, modificar a textura ou até criar uma imagem mais saudável para o produto.

Mas é importante lembrar: há uma diferença gritante entre alimentos naturalmente ricos em proteína e aqueles ultraprocessados com adição de concentrados proteicos, como whey ou proteína isolada de soja.

Por exemplo — uma carne bovina magra, como o patinho, é naturalmente uma excelente fonte de proteínas, rica em aminoácidos essenciais e com alta biodisponibilidade.
Já uma barrinha de proteína industrializada pode até carregar o rótulo de “fonte de proteínas”, mas é, na prática, um ultraprocessado com um toque de marketing proteico. Nela, o que garante a fama não é a qualidade nutricional, e sim o pó branco misturado à lista extensa de ingredientes.

O jogo do marketing: quando a proteína vira argumento de venda

Por trás do boom das proteínas, existe uma jogada de marketing muito bem estruturada — e ela tem nome: efeito halo. Esse fenômeno acontece quando associamos automaticamente um produto a algo saudável, apenas por conter palavras como fit, natural ou proteico no rótulo.

E as grandes empresas sabem explorar isso como ninguém. Afinal, quem deixaria de lucrar com um público obcecado por “ganhos” e “performance”? É por isso que vemos cada vez mais produtos hipercalóricos e ultraprocessados com um “plus proteico” estampado na frente da embalagem. O truque é simples: se tem proteína, o consumidor tende a relevar o teor de açúcar, gordura ou calorias — afinal, “proteína é sempre boa”, certo?

Errado. Evidências científicas recentes mostram que o consumo excessivo de proteínas, principalmente as de origem animal, pode estar associado a maior risco de doenças crônicas e redução da longevidade.

Isso não quer dizer que você precise abolir o whey ou o hambúrguer proteico da sua vida — o problema não está no consumo pontual, mas na normalização desses produtos como parte da rotina, como se fossem opções saudáveis apenas por conterem proteína.

O futuro da proteína: entre a ciência e o marketing

À medida que a ciência avança, nossos conceitos sobre o papel da proteína na alimentação também mudam. Hoje sabemos que um consumo reduzido de proteínas animais e a valorização das fontes vegetais estão associados a uma maior longevidade e melhor qualidade de vida. Por outro lado, o alto consumo proteico — especialmente de origem animal — não apresenta evidências sólidas de benefícios à saúde, podendo inclusive trazer efeitos adversos a longo prazo.

Enquanto isso, as empresas fazem uma jogada estratégica, transformando a proteína em um argumento de venda. O problema é que, muitas vezes, o produto não se torna mais saudável — ele apenas muda sua composição nutricional, o que não significa que seja melhor, apenas diferente.

No fim das contas, o que realmente importa é educação alimentar e nutricional. Só por meio dela é possível formar consumidores críticos, capazes de olhar além dos rótulos chamativos e das promessas “fit”, fazendo escolhas alimentares conscientes, equilibradas e livres do marketing predatório que dita modas, mas raramente entrega saúde.

No fim, o equilíbrio é o que importa

No fim das contas, o “boom” da proteína mostra mais sobre o comportamento do consumidor do que sobre a real necessidade nutricional.
As empresas estão apenas respondendo a uma demanda — uma demanda que nasceu do culto ao corpo, do medo do carboidrato e da busca por soluções rápidas para uma vida mais saudável.

Mas saúde não está em um rótulo bonito, e muito menos em um produto “com whey”. Está nas escolhas conscientes, no entendimento do que comemos e no senso crítico diante das estratégias de marketing.
Afinal, proteína não é vilã, mas também não é milagre.

Na Nutri Jr, acreditamos que o caminho é a educação alimentar e nutricional — porque um consumidor bem informado não se deixa enganar tão fácil, e isso é o que mais assusta as grandes indústrias.