Nos últimos anos, a produção de conteúdo sobre nutrição passou de exceção para norma. Ser nutricionista implica ter presença digital. É ali que se constrói autoridade, reputação, relacionamento, prova social e, muitas vezes, oportunidades profissionais que não surgiriam no off-line. O problema não é que comunicamos — é como estamos comunicando.

A internet transformou o ato de “falar sobre comida” num produto de consumo diário para milhões de pessoas. O que antes era mediado por consulta, por aula, por livro, agora é acessado por um dedo que desliza. A barreira de entrada reduziu: publicar exige zero rigor, zero filtro, zero preparo. Qualquer frase com uma música trend pode adquirir status de verdade percebida. O público não diferencia, ele só recebe.

Nesse cenário, o que se passa no feed deixa de ser entretenimento e ganha peso clínico, social e psicológico. O conteúdo virou intervenção.

E quando algo vira intervenção, discutir ética deixa de ser opcional, vira ato de proteção coletiva.

O fenômeno: conteúdo que nasce para viralizar, não para informar.

Existe uma lógica silenciosa ditando hoje o que aparece no feed: “o que funciona” em performance pesa mais do que “o que é verdadeiro”. A métrica substituiu o critério. E quando a régua passa a ser o algoritmo, o conteúdo não nasce da responsabilidade, mas da conveniência.

É por isso que vemos:

• Promessas impossíveis, porque “antes/depois vende”

• Cortes de podcast viralizados com frases absolutas, sem contexto

• Dietas fake criadas só para gerar discussão nos comentários

“Guias práticos” que parecem recomendação clínica

Polêmicas fabricadas como estratégia de alcance

Evidência substituída por opinião travestida de coragem.

Perceba: não é desinformação por ignorância, mas sim desinformação calculada. Sabe-se que aquilo engaja. E quando se faz sabendo que distorce, não estamos mais falando de erro — estamos falando de escolha.

O problema é ético e não apenas técnico

É tentador reduzir essa discussão à ideia de “conteúdo ruim”. Mas ela vai além: a questão não é de estética ou gosto — é de impacto. Nutrição não é uma pauta neutra; ela influencia comportamento, crença, culpa, autoconceito, tratamento clínico, relação com o corpo, com a comida, com a saúde.

Quando um conteúdo induz alguém a cortar um grupo alimentar, iniciar uma prática extrema, desistir de acompanhamento profissional ou sentir culpa por não conseguir reproduzir um padrão irreal, ele deixa de ser “um post” e vira uma intervenção invisível sobre uma vida real.

Na saúde, comunicar é intervir, mesmo que não haja intenção.

E onde há intervenção, há responsabilidade ética.

Um profissional que publica algo que sabe que não é verdadeiro, apenas porque “funciona”, não está só sendo imprudente, como está traindo a função social do próprio papel que ocupa. Credibilidade profissional não é construção estética: é um pacto de responsabilidade com quem não tem obrigação de saber do que você sabe.

Por que tantos profissionais caem nesse jogo

É importante reconhecer: não é fraqueza individual — é contexto sistêmico. Vivemos na economia da atenção: o que recebe recompensa é aquilo que gera reação máxima, no menor tempo. A arquitetura das plataformas é construída para premiar exagero, atalho, simplificação — e punir nuance, maturidade e rigor. O profissional ético concorre com a lógica da máquina.

Além disso:

• Seguidores viraram capital social

Convocatórias, parcerias e convites muitas vezes pedem número, não qualidade

Ver leigos viralizando mais que profissionais gera angústia de urgência

Há medo real de irrelevância: “se eu não faço igual, desapareço”

Esse cenário cria uma sensação psicológica perigosa: a de que ser ético tem custo, e ser viral tem prêmio. Quando o sistema recompensa o antiético, é difícil resistir.

A alternativa: comunicar estrategicamente sem renunciar à integridade

Falar de ética não é defender silêncio, rigidez ou conteúdo sem apelo. A questão não é abandonar a estratégia, mas sim reposicioná-la.

É possível:

Usar trends como gancho para crítica, não para reforço do erro

Transformar hype em porta de entrada para evidência

• Educar com linguagem acessível sem deturpar complexidade

Gerar desejo pela nutrição sem prometer o impossível

Provocar reflexão em vez de gerar medo ou culpa

Atrair público sem manipular percepção

O critério não é “não viralizar”. O critério é: se viralizar, que seja por algo que você sustentaria olhando no olho de quem foi impactado.

A pergunta que sustenta a linha editorial

O filtro real antes de publicar qualquer conteúdo de nutrição deveria ser apenas um: Se alguém agir a partir do que eu estou dizendo, essa pessoa estará mais protegida ou mais vulnerável?

Se a resposta é vulnerabilidade, o post não é estratégico — é irresponsável.

Num ambiente onde opiniões se espalham mais rápido que evidência, e onde o público não tem instrumentos para separar marketing de verdade, manter ética na comunicação não é formalidade, é a última barreira entre a ciência e a distorção dela.

Views evaporam; hype troca de assunto; feed é esquecido. O que fica é o efeito do que foi dito, e a confiança se perde uma vez só.

O papel da Nutri Jr USP

Nós, da Nutri Jr, temos a missão de caminhar lado a lado com nutricionistas para transformar a alimentação no Brasil.

Queremos garantir que o seu conteúdo alcance muito sucesso, sempre de maneira ética, com informações verdadeiras e longe de modismos passageiros.

Se o seu objetivo é se destacar do jeito certo e conquistar a admiração genuína dos seus seguidores, entre em contato conosco. Vamos juntos fortalecer a nutrição e inspirar cada vez mais pessoas!