Doença Celíaca e o Consumo de Glúten
1- O que é Doença Celíaca?
A Doença Celíaca, também conhecida como Enteropatia Sensível ao Glúten, é uma condição crônica e genética, na qual o indivíduo portador tem uma intensa resposta inflamatória intestinal, induzida pelo consumo de glúten. Este composto consiste em uma rede formada por hidratação, formada por duas classes de proteínas: gliadina e glutenina.
O glúten confere algumas propriedades culinárias como extensibilidade e resistência a alguns alimentos, sendo importante para o preparo de massas, pizzas e pães, por exemplo. Porém, o consumo de alimentos com essa proteína é altamente contraindicado para as pessoas acometidas pela doença celíaca, porque estas possuem alguns anticorpos específicos que atacam o revestimento do intestino delgado quando há um contato dos tecidos com o glúten, o que resulta em lesões locais, provocando a manifestação de sintomas físicos.
É importante ressaltar que, apesar de muitos mitos serem propagados a respeito do assunto, o glúten não é prejudicial à saúde de indivíduos não celíacos que não possuem nenhum grau de sensibilidade a esta proteína, e, portanto, não causa inflamações no organismo destas pessoas. Contudo, quando portadores da doença consomem alimentos que contêm glúten naturalmente, ou que sofreram contaminação cruzada, ocorre o disparo de uma reação inflamatória local, que resulta em deformação e achatamento das microvilosidades, as projeções microscópicas que revestem o intestino. Como consequência desta resposta imune, a superfície de contato do tecido intestinal com o lúmen é reduzida, e absorção dos nutrientes é prejudicada.
A longo prazo, um quadro constante dessa inflamação pode provocar deficiências de vitaminas e minerais, perda de massa muscular, anemia, fragilidade óssea e outros problemas relacionados à má absorção, além de aumentar a chance de desenvolver dermatite herpetiforme e alguns tipos de câncer, de acordo com a Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil (FENACELBRA). Por essas razões, é possível compreender a importância da restrição do consumo de glúten na alimentação dos celíacos.
2 – Reação Governamental
Para assegurar a segurança e o bem estar da população portadora dessa doença, foi estabelecido, através da Resolução RDC n° 40, de 26 de agosto de 2015, que “todos os alimentos e bebidas embalados que contenham glúten, como trigo, aveia, cevada, malte e centeio e/ou seus derivados, devem conter, no rótulo, obrigatoriamente, a advertência: CONTÉM GLÚTEN”. Diante dessa norma regulamentar, fica evidente a importância de se realizar a rotulagem nutricional de produtos alimentícios, um dos serviços prestados pela Nutri Jr. USP.
Para saber um pouco mais sobre a rotulagem nutricional obrigatória, acesse nossa postagem que aborda o assunto:
Considerando as possíveis complicações da doença, é inquestionável a importância de se obter um diagnóstico precoce, de forma que a restrição de glúten na alimentação do celíaco seja iniciada o mais breve possível, para que o epitélio intestinal possa cicatrizar após as lesões sofridas, evitando o agravamento do quadro ao máximo.
Entretanto, a detecção da patologia é considerada complicada, tendo em vista que esta pode se apresentar sob três formas distintas conhecidas, de acordo com o Ministério da Saúde, sendo elas: forma clássica ou típica, caracterizada pela combinação de vários sintomas gastrointestinais comuns, como diarreia, enjoo e inchaço abdominal; forma não clássica ou atípica, caracterizada pela presença de apenas um ou dois sintomas e pela ausência ou atenuação de manifestações relacionadas ao sistema digestivo; e forma assintomática ou silenciosa, na qual não existem manifestações clínicas, apenas alterações em certos tipos de exames laboratoriais.
3 – Importância do conhecimento da doença
Devido à essa pluralidade de tipos de manifestação da doença, os sintomas podem não ser conclusivos quando apontados em uma anamnese, e essa situação pode acabar implicando em um retardo do diagnóstico, já que os conhecimentos nos meios médico e científico sobre a Enteropatia Sensível ao Glúten ainda não são suficientes, e, dessa forma, muitos portadores acabam sendo diagnosticados erroneamente com outras comorbidades que apresentam sintomas semelhantes, como Colite, Síndrome do Intestino Irritável (SII) e Doença de Crohn. O diagnóstico incorreto ocorre principalmente quando não são solicitados exames laboratoriais, como o de detecção da presença de anticorpos específicos e a endoscopia digestiva.
Tendo isso em vista, infere-se que é extremamente importante atentar-se aos sintomas, e, se possível, observar se eles se intensificam quando há um maior consumo de glúten na dieta. Esse cuidado é ainda mais conveniente quando o indivíduo possui alguma das doenças autoimunes que podem o incluir no grupo de risco, sendo elas: Diabetes Mellitus tipo 1, Artrite Reumatoide, Tireoidite de Hashimoto, Hepatite Autoimune, Doença de Addison, Lúpus, Esclerose Múltipla e Alopecia Areata. Ademais, doenças hepáticas e Síndrome de Down também são quadros que estão associados a um risco aumentado de enteropatia sensível ao glúten, bem como a existência de um histórico familiar da doença.
4 – Cenário Brasileiro
Para a população do país que vive em condições mais precárias, o diagnóstico correto e o tratamento da Doença Celíaca são ainda mais difíceis, visto que os indivíduos pertencentes a este grupo socioeconômico têm um acesso mais limitado aos serviços médicos: enquanto os planos de saúde e consultas particulares são inacessíveis, há também uma sobrecarga no Sistema Único de Saúde (SUS), fator que acaba dificultando o acesso rápido ao atendimento gratuito.
Atrelado a isto, muitas das pessoas que possuem baixíssimas condições financeiras e portam a doença também enfrentam problemas relacionados à alimentação, por viverem em locais conhecidos como desertos alimentares, onde o acesso aos alimentos naturais, como folhas, frutas e legumes, é muito limitado. Assim, eles acabam recorrendo à alimentos ultraprocessados, que frequentemente levam ingredientes que contém glúten em sua composição ou que foram contaminados durante o processamento industrial.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil está entre os países mais desiguais do mundo, e, por isso, infere-se que muitos habitantes vivem em situação de extrema pobreza. Essa conjuntura certamente tem influencia nos dados estatísticos referentes à prevalência da doença celíaca no território brasileiro, de modo que a quantidade de casos apontados pelos números não corresponde à realidade, devido ao subdiagnóstico dessa enfermidade no país.
Somando-se a esta problemática mencionada, a falta de informação a respeito da enteropatia sensível ao glúten também é um fator que resulta em uma grande quantidade de casos sem diagnóstico e sem tratamento. Os sintomas, complicações e fatores de risco para essa doença ainda são muito desconhecidos pela população brasileira em geral. Contudo, apesar das atuais dificuldades de diagnóstico, a tendência é que as pesquisas na área médica avancem, de forma que, daqui a alguns anos, a investigação da doença possa ser muito mais fácil e acessível, além da qualidade de vida dos celíacos ser melhor, por meio do acesso a uma maior variedade de alimentos.
5 – Atualmente
Nas últimas décadas, o mercado de alimentos sem glúten teve um crescimento muito expressivo, de tal forma que torna-se cada vez mais comum achar opções de produtos e preparações culinárias gluten-free em restaurantes, lanchonetes e redes de supermercado, incluindo massas, bolos, pães e pizzas sem esta proteína, o que seria improvável a algumas décadas atrás.
A tendência é que este mercado seja cada vez mais ampliado, já que, de acordo com uma matéria da revista digital Época Negócios, é estimado que haverá um grande crescimento no consumo de produtos sem glúten até 2020, com uma projeção de aumento das vendas de 35% a 40% ao ano.
Essa diversidade crescente possibilita que os portadores da Doença Celíaca tenham acesso a uma alimentação mais variada, podendo também construir relacionamentos interpessoais mais saudáveis. Sabe-se que o fornecimento de opções para a população que precisa conviver com restrições alimentares pode ter um impacto positivo sob o exercício da comensalidade – o ato de comer com companhia, que tem papel fundamental na estruturação da vida social – porque essa inclusão viabiliza a presença desse público em espaços destinados à alimentação coletiva.
6 – Tratamento Médico
Por fim, é válido ressaltar que, apesar de infelizmente ser inviável para uma parcela muito grande dos brasileiros, o acompanhamento médico e nutricional é extremamente importante para que os indivíduos com essa condição sejam corretamente diagnosticados, tratados e recebam orientações especializadas, pois a conduta profissional para o tratamento pode variar com base no grau da doença, em questões culturais e nos hábitos e preferências alimentares do paciente.
Os profissionais da saúde não fazem o acompanhamento da Doença Celíaca isoladamente, pois também orientam quanto à escolha dos alimentos, indicando meios de realizar boas substituições na alimentação, sempre buscando respeitar a individualidade de cada um.
Portanto, conclui-se que é imprescindível que os celíacos que foram devidamente diagnosticados sigam o tratamento e se atentem ao rótulo dos alimentos comprados. Ademais, os adultos responsáveis por crianças portadoras da doença devem ter atenção redobrada ao que elas consomem no dia a dia, uma vez que estas estão em fase de crescimento e precisam de um aporte nutricional apropriado, para que ocorra um desenvolvimento adequado.
Referências
NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Brasil está entre os cinco países mais desiguais, diz estudo de centro da ONU.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas: Doença Celíaca.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Resolução RDC n° 40.
ÉPOCA NEGÓCIOS. Brasileiro aumenta consumo de alimentos sem glúten e lactose.
FEDERAÇÃO NACIONAL DAS ASSOCIAÇÕES DE CELÍACOS DO BRASIL (FENACELBRA). Doenças associadas à doença celíaca.
MD SAÚDE. Doença celíaca – causas, sintomas e tratamento.
Autora: Gabriela Louro – Assessora de Marketing
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