A infância, sobretudo, é um período que exerce grande influência no comportamento alimentar do indivíduo na vida adulta. É nessa fase da vida que inicia-se a formação dos hábitos alimentares, sendo eles determinados por diversos fatores internos e/ou externos. 

Tendo isso em vista, refletir sobre a alimentação da criança é extremamente importante para a prevenção futura de doenças e problemas relacionados à nutrição, como obesidade, diabetes, transtornos alimentares e hipertensão arterial.

Logo entendimento desses determinantes possibilita a criação de estratégias que visam uma alimentação saudável para esse grupo etário nos consultórios, em casa ou até mesmo nas escolas através da educação nutricional.


Fatores Internos

Alguns fatores que afetam a formação dos hábitos alimentares na infância são de aspecto fisiológico, sendo eles:

  • Experiências intrauterinas

A exposição do feto a determinados estímulos sensoriais pode contribuir para a preferência de sabores. 

  • Aleitamento Materno

A alimentação da mãe durante a lactação interfere no sabor do leite materno. É importante ressaltar que a Organização Mundial da Saúde recomenda o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade.

  • Neofobia

A neofobia trata-se da relutância em experimentar novos alimentos, é um mecanismo adquirido pela criança a fim de se proteger do desconhecido. 

A frequência do oferecimento do alimento tende a diminuir sua rejeição. Durante a introdução alimentar (a partir dos 6 meses) é essencial que a criança seja exposta ao mesmo alimento de 5 a 10 vezes, uma vez que existe uma relação entre a frequência das exposições e a preferência pelo alimento.

  • Palatabilidade

Alimentos com maior palatabilidade, ou seja, que agradam mais o paladar, são preferidos. Acostumar a criança desde cedo a consumi-los interfere na aceitação de alimentos in natura ou minimamente processados, que devem ser priorizados em uma alimentação saudável.

Por conta disso, o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras menores de 2 anos indica que preparações ou produtos que contenham açúcar não devem ser oferecidos até os 2 anos de idade. Além disso, recomenda o não oferecimento de alimentos ultraprocessados para crianças, até mesmo aqueles ultraprocessados que apresentam embalagem e propaganda destinadas ao público infantil.


Fatores Externos

Diferentemente dos fatores internos, os externos estão relacionados com o ambiente, o contexto social, econômico e cultural. 

  • Alimentação dos pais

Os hábitos alimentares da família influenciam nas preferências alimentares da criança, pois ela vai ser exposta com maior frequência aos alimentos que os pais já consomem no dia a dia. 

Além disso, o comportamento durante as refeições, os horários em que elas são feitas e a maneira que são oferecidas são aspectos aprendidos muito cedo pelas crianças. Dessa forma, o início da introdução alimentar pode ser um momento oportuno para a mudança dos hábitos da família também. 

Destaca-se também a importância de evitar atitudes negativas em relação à comida, como comentários sobre o peso da criança, controle excessivo de calorias e forçar a criança a comer. 

  • Alimentação do grupo

A ida para escola, período no qual a criança começa a ter contato e socializar com outras crianças, é marcado por mudanças no estilo de vida e consequentemente na alimentação. 

Nesse sentido, o ambiente escolar é propício para a implementação da educação nutricional, através de atividades lúdicas que impactam positivamente na alimentação dos estudantes. 

  • Condições socioeconômicas

O direito à alimentação adequada e saudável é garantido pela Constituição Federal e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). 

Entretanto, a diferença da ingestão energética e da qualidade nutricional dos alimentos consumidos entre a população de baixa renda e a de alta renda evidencia a desigualdade social vivenciada no país atualmente. 

Desse modo, torna-se extremamente necessária a implementação de políticas públicas efetivas que realmente garantam esse direito de acesso a uma alimentação adequada a todos. 

  • Influência da TV e mídias sociais

A exposição a comerciais de televisão é capaz de modular as preferências alimentares das crianças, ainda mais quando os comerciais são voltados a esse público, mostrando desenhos infantis que chamam a atenção. 

Ademais, há a predominância de propaganda de alimentos ultraprocessados, ricos em gorduras, sódio e açúcares, contribuindo para a formação de maus hábitos alimentares e agravando o problema da obesidade.


Conclusão

Em conclusão, são muitos os fatores que influenciam nos hábitos alimentares adquiridos durante a infância e na consolidação deles ao longo da vida. 

Sendo assim, a formação do comportamento alimentar é um processo complexo que ocorre em diversos ambientes e exige a participação ativa da família, dos professores, dos profissionais de saúde e até do Estado.


Referências

Guia Alimentar para Crianças Brasileiras menores de 2 anos.

VALLE, Janaína Mello Nasser; EUCLYDES, Marilene Pinheiro. A formação dos hábitos alimentares na infância: uma revisão de alguns aspectos abordados na literatura nos últimos dez anos. Rev APS, v. 10, n.1, p. 56-65, 2007.

DA ROSA PIASETZKI, Cláudia Thomé; DE OLIVEIRA BOFF, Eva Teresinha. Educação alimentar e nutricional e a formação de hábitos alimentares na infância. Revista Contexto & Educação, v. 33, n. 106, p. 318-338, 2018.

Saiba mais sobre a Educação Nutricional citada através dos nosso texto “Educação Alimentar e Nutricional no Brasil” postado no blog.


Autora: Giovana Facina – Diretora de Marketing